Deslocamentos
Liberdade de ser
VERBO SER
Diversidade, respeito e liberdade como possibilidades de reconstrução do mundo
Textos de Fernanda Walmer e Matheus Rodrigues
Fotos de Dayara Morais
Pesquisa de Anna Quaresma
Design de Matheus Rodrigues
O Brasil lidera hoje o ranking de violência contra pessoas LGBTQIA+ no mundo. Enquanto estatísticas apontam como responsável por 50% de todas as ocorrências de mortes de travestis e transexuais, o país também figura como o maior consumidor de conteúdo pornográfico de pessoas transgêneros do planeta. Entre homicídios, suicídios e violências psicológicas, os números relacionados à LGBTfobia no Brasil são cada vez mais assustadores.
O Grupo Gay da Bahia (GGB) divulgou em seu último relatório anual, em janeiro de 2019, o registro de 420 vítimas fatais de discriminação contra LGBTs no Brasil no ano de 2018. Em sua última parcial, divulgada no dia 19 de maio, o grupo apresenta o registro de 143 mortes em 2019, o que corresponde a 1 assassinato a cada 24 horas. Ainda que a comunidade LGBTQIA+ acumule conquistas importantes nos últimos tempos, como a criminalização da LGBTfobia pelo Supremo Tribunal Federal em junho deste ano – com tipificação equiparada ao crime de racismo –, a retomada de um conservadorismo extremo tem ameaçado cada vez mais a liberdade de quem não se enquadra nas expectativas sociais, sejam elas relacionadas ao gênero ou à orientação sexual.
Vítimas de LGBTfobia por estado - Relatório de 2018
Fonte: Grupo Gay da Bahia (GGB)
Como remodelar as concepções do que é humano?
Diante da ascensão do tradicionalismo nos últimos anos, algumas pessoas, como Bruno, Giovanna, Hugo, Luigi e Pedro, e grupos como o CELLOS MG e o Mães pela Diversidade fazem com que seja possível acreditar num futuro mais consciente e tolerante. A busca diária por respeito, liberdade e pertencimento num mundo que insiste em deixá-los à margem faz com que estas pessoas se tornem referência na busca por um caminho mais igualitário, encontrando alternativas para remodelar as concepções sociais do que é humano.
Bruno
Bruno Alves, belorizontino, coordenador do Centro de Luta pela Livre Orientação Sexual de Minas Gerais (CELLOS MG)
Giovanna
Giovanna Heliodoro, de alcunha trans preta. Belorizontina, historiadora, que se identifica como travesti, negra e bissexual. É Afrotransfeminista, ativista, articuladora social e DJ.
Hugo
Hugo Maximiliano, uberlandense, graduado em Letras. É supervisor de loja de uma grande empresa varejista, apaixonado por moda e possui uma identidade fluida e sem limitações estéticas de gênero.
Luigi
Luigi Rosa, belorizontino, graduando em publicidade, artista. Apaixonado pela boneca Barbie, pelo fofo e pelo mórbido, identifica-se dentro da teoria queer, ou seja, alguém que transita entre as definições do que é esteticamente masculino e feminino.
Pedro
Pedro Pinheiro, publicitário belorizontino, estudioso e pesquisador das questões de gênero. Trabalha com marketing digital, mora com o cachorro e se identifica como homem trans.
Caminhos e possibilidades
Com a necessidade presente e urgente de se encarar a realidade homofóbica, transfóbica e misógina que o Brasil vive e tentar construir formas de combatê-las, algumas ONGs, grupos, movimentos e projetos acabam se tornando o apoio para que as pessoas se fortaleçam e se organizem na luta por direitos, justiça e respeito. Dois deles, o CELLOS e o Mães pela Diversidade, são grupos que desenham novas possibilidades para uma vida mais digna e livre.
Um grupo de militantes se encontra em Belo Horizonte em março de 2002. O anseio era dar início a um projeto LGBTQIA+ que conscientizasse essa comunidade sobre a defesa de seus direitos fundamentais e sobre a importância da luta pelas causas de identidade e gênero. O projeto sai do papel e nasce o Cellos.
Junto com outras iniciativas que iam surgindo na época, o grupo expande seu trabalho para além da luta contra o HIV/AIDS - que até então era a preocupação central das ações voltadas para os LGBT’s.
A partir daí o Cellos cresceu e se consolidou como um polo para a população lésbica, gay, bissexual, travesti e transexual que busca uma forma de posicionamento atuante na luta contra o preconceito, a opressão e a LGBTfobia em todo o estado.
Bruno Alves, coordenador do Cellos, explica que os pilares de trabalho do grupo giram em torno de ações de ‘controle social’ - que é a presença em conselhos de políticas públicas, espaço de disputa orçamentária, etc -, na linha de formação e também na realização de atividades desenvolvidas durante o ano todo. “Na formação temos os projetos ‘Protagonismo LGBTI’ e ‘Convergência das Cores: HIV/Aids e Aborto Seguro’, e dentre outros eventos, realizamos a Parada do Orgulho LGBT de BH, que já vai para sua 22ª edição sob coordenação do Cellos”.
Os projetos Protagonismo LGBTI e Convergência das Cores têm como objetivo qualificar militantes de movimentos sociais do estado de Minas Gerais, relacionados às questões LGBTQIA+, para o desenvolvimento de ações de fortalecimento institucional, advocacy e controle social de política públicas. O primeiro é basicamente constituído por seminários e dividido em duas etapas: a de formação e a de avaliação das ações desenvolvidas. Já o segundo é uma parceria com o “Fundo Positivo” e convida àqueles que estejam constituídos em coletivos, movimentos, fóruns e outras modalidades de organização social para atuação em algum dos campos de formação.
Sendo um coletivo de apoio, o Cellos recebe inúmeras denúncias de violação vindas de toda Minas Gerais. Bruno explica que dificilmente um caso de abuso ou violação que acontece no interior do estado é tratado da mesma forma que os casos que acontecem em BH, pois além do preconceito em torno das questões LGBTQIA+ dificilmente há um grupo profissional preparado para lidar com essas ocorrências fora da capital. Há situações em que o próprio município não sabe resolver, então o Cellos age como uma ponte dando os devidos encaminhamentos, direcionando para os órgãos responsáveis e oferecendo suporte. A procura por orientações também é um ponto forte nas demandas do grupo, confirmando a importância do projeto e a confiança depositada nele.
O CELLOS/MG se financia por meio de doações e o voluntariado é outra forma de colaboração.
Entre em contato com o Cellos:
Endereço da Sede: Av. Afonso Pena 867, 22º andar – sala 2207 – Centro, Belo Horizonte - MG
Telefone: (31) 3222-7976
E-mail: contato@cellosmg.org.br
CELLOS na abertura da #JornadaDaCidadaniaLGBT, na Câmara Municipal de Belo Horizonte.
Membros do CELLOS MG - 2018
Reunião de formação de voluntários para a Resultados da pesquisa Resultados da Web 22ª Parada do Orgulho LGBT de Belo Horizonte.
Reunião de formação de voluntários para a 22ª Parada do orgulho LGBT de Belo Horizonte.
Projeto Convergência das Cores em parceira com o CELLOS, projeto de militantes de movimentos sociais de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexo (LGBTI), feministas e de luta contra o HIV/AIDS da região metropolitana de Belo Horizonte.
Coletivo de organização CELLOS 2018
O Mães pela Diversidade nasceu do encontro entre mães e pais de pessoas LGBTQIA+ na cidade de São Paulo, em 2014. Com o seu crescimento ao longo do tempo, o grupo adquiriu identidade jurídica e hoje é uma Associação, atuando em todo o território nacional.
Trabalhando sob os pilares: Independência, laicidade, suprapartidarismo e voluntariado, o MPD busca criar, implantar, auxiliar e executar programas, projetos e atividades de promoção das manifestações culturais e artísticas relativas à orientação sexual, à identidade de gênero e às diferenças culturais, sociais e raciais existentes. A articulação dos trabalhos desenvolvidos é feita pelo comando nacional do grupo e repassada aos seus coordenadores estaduais.
No ano de 2017, Fernando Salum, militante da Frente Autônoma LGBT, convidou sua mãe, Myriam Salum, a conhecer a associação Mães pela Diversidade. Este primeiro contato trouxe para Myriam uma noção real da violência multifacetada e diária que seu filho vivia. Em conversa com o comando nacional, aceitou o desafio de levar a iniciativa para Minas, coordenando o movimento no estado.
A primeira ação do Mães pela Diversidade em Minas foi na Câmara Municipal de BH, onde estava em votação a PELO 003/2017. De um lado, nas galerias, estavam alguns militantes LGBTQIA+ e duas participantes do MPD. O outro lado estava lotado de apoiadores da bancada cristã e conservadores. “Em um determinado momento levantaram um cartaz que dizia “em defesa de nossas famílias”. Este simples cartaz de cartolina foi a pólvora que acendeu a luta das Mães de Minas. “Foi neste instante que vimos a necessidade de tirarmos os pais do armário - que na verdade é uma prisão social. Nossa prioridade inicial é mostrar às famílias que só conseguiremos proteger nossas filhas e filhos se sairmos da nossa zona de conforto e enfrentarmos o mundo junto com eles”, conta Myriam.
A atuação do grupo dentro das câmaras municipais nas assembleias, acompanhando as votações de interesse da população LGBTQIA+ e mantendo diálogo com o legislativo, são meios de se lutar por um olhar mais justo sobre essas pessoas. Em 2018 o MPD esteve no gabinete do prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, pleiteando e apresentando um projeto de uma casa de acolhimento a pessoas LGBTQIA+ que são expulsas de seus lares e não têm para onde ir, correndo o risco de entrarem em situação de rua. A iluminação do prédio da Prefeitura de BH com as cores da bandeira LGBTQIA+, no dia 17 de maio de 2018 - data em que se comemora o Dia Internacional contra a LGBTfobia - também foi uma conquista da atuação do Mães.
O trabalho do MPD para acolhimento das famílias que ainda não compreendem a condição de seus filhos e que temem a LGBTfobia conta com uma rede de voluntários de profissionais de diversas áreas: psiquiatria, psicologia, advocacia e outros. O encontro semanal no Centro de Referência da Juventude (CRJ) tem sido cada vez mais procurado, também em resposta aos medos que crescem nessas famílias depois da posse do atual presidente.
“Queremos ter Mães pela Diversidade em todas as cidades de Minas, trabalhar de forma organizada, com mais recursos e com apoio de instituições públicas ou privadas que se alinhem com nossos propósitos. O empoderamento dessas mães e pais, por meio de rodas de conversa, palestras, debates e cursos promovidos muitas vezes pelos próprios filhos LGBTQIA+, traz um entendimento acerca da necessidade de se estar nas ruas defendendo suas famílias e as diferenças que constituem cada uma delas”, ressalta Myriam.
A associação ganhou o XIV Prêmio de Direitos Humanos e Cidadania LGBT 2018, tanto em Contagem como em Belo Horizonte, oferecido pela ONG CELLOS – Centro de Luta Pela Livre Orientação Sexual de Minas Gerais, reafirmando sua importância e a seriedade em seu trabalho.
O grupo é formado exclusivamente por mães e pais de pessoas LGBTQIA+ e conta hoje com mais de duzentos participantes no estado de Minas Gerais.
Para entrar em contato com o Mães pela Diversidade:
O MPD não possui sede própria.
O contato pode ser feito através das redes sociais:
Facebook: Mães pela Diversidade Nacional
Instagram: @mãespeladiversidade
E-mail: mãespeladiversidademinas@gmail.com
Em Minas:
No estado há 5 polos, sendo 1 polo central (BH e região), polo norte (sede em Montes Claros), polo zona da mata (sede Juiz de Fora), polo sul de Minas (sede em Poços de Caldas) e Triângulo Mineiro (sede em Uberlândia).
Em Belo Horizonte, os acolhimentos são realizados no Centro de Referência da Juventude (CRJ), que fica localizado na rua Guaicurus, nº 50, no centro, ao lado da Praça da Estação.
Os plantões acontecem às segundas-feiras, das 18h às 19h30, e aos sábados, das 10h ao meio dia.
Não precisa agendamento, é só aparecer em algum desses dias e horários.
O grupo também está, todas as quintas-feiras, de 16h às 18h, no CRLGBT – Centro de Referência LGBT da Prefeitura de Belo Horizonte
Primeiro casamento coletivo LGBT+ de Roraima. Ação promovida pelo Cartório Loureiro com parceria do Mães pela Diversidade e do Grupo Diversidade.
Roda de conversa na BASF - Badische Anilin- & Soda-Fabrik, com as Mães pela Diversidade do núcleo de São Paulo.
Primeiro Encontro do Mães pela Diversidade em Barreiras, no oeste Baiano.
Reunião com a Promotora de Justiça, polícia Militar, Secretaria de Cultura , Representante do poder público, ONG Primavera e Mães pela Diversidade do Sertãozinho sobre a organização da 1° Parada LGBTQI+ da Cidade de Cravinhos dia 15/12 com tema: "Amai uns aos outros como a si mesmo - A Prevenção é um laço que nos une".
Representantes do Mães pela Diversidade.
Mães pela Diversidade do Ceará participaram dia 30 de Setembro do lançamento do livro "Fatos, Afetos e preconceitos - direito, diversidade e empresas".